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Uma história que iniciou em outro continente...

DA ARMÊNIA PARA O BRASIL

       

         Eram poucos, muito poucos, com a simplicidade e o despojamento que só os que fugiram de um genocídio poderiam ter.   Já haviam passado por outros países, mas, ao ouvir sobre o Brasil, sentiram o apelo irresistível para partir, recomeçar e “fazer a América”.

 

         Formados na universidade da vida, pós-doutorados em sofrimentos e dores, traziam em suas rústicas bagagens o sonho inquebrantável de uma nova vida, de um novo país e de um novo começar. Trouxeram muita experiência de vida, poucas posses, algumas ferramentas antigas e já gastas, e a família que em muitos casos veio repartida, dividida até, esperando que o dinheiro bastasse para o tão esperado reencontro.

 

         Trouxeram novos idiomas, o armênio falado por poucos, e o turco, pois em muitas de suas cidades, embora armênias, o idioma armênio fora banido pelos conquistadores turcos à custa de muito sofrimento, perseguição e mortes.

Mas trouxeram principalmente sua fé, fé em um Deus que não muda, e que, apesar dos pesares, e tanta dor e o sofrimento de um genocídio que eles não queriam lembrar nem falar, eles amavam e queriam cultuar.

 

         Em suas malas rotas trouxeram também Bíblias, (Asvadzachuntch, o fôlego de Deus) como diziam em armênio, (Kitab Mukhatess, o Livro Santo) em turco, e principalmente o embrião de uma nova igreja.

BALEIROS,SAPATEIROS,PADEIROS,COMERCIANTES CHEGAM NO BAIRRO DO  IMIRIM

       

       

Era a década de 30, no então longínquo bairro do Imirim, que esses imigrantes armênios e seus descendentes, vindos da Grécia, Líbano, Síria e outros países do oriente sentiram a grande necessidade de reunirem-se para louvar a Deus e estudar Sua Palavra.

Esses irmãos, simples em sua origem, baleiros, barbeiros, pintores de paredes, sapateiros, comerciantes, padeiros, sem muito conhecimento teológico e eclesiástico souberam pelo exemplo e prática de vida transmitir aos outros sua fé no Jesus que salva e transforma vidas.

 

         No início, ainda poucos, congregavam na casa do irmão Moisé Jean Nerssisian, nascido em Marach na Armênia histórica em 1883, que em sua fuga da barbárie turca, peregrinou por Tarso e da Grécia veio para o Brasil em 1929. Sua casa na Travessa Clara Camarão nº 23, construída em 1930 logo se tornou pequena. 

A PRIMEIRA ATA DA IGREJA-20 de junho de 1934

       

       

Na casa do irmão Hagop Chememian, na travessa Clara Camarão nº 25, pegada a de Moise, foi redigida uma ata, a ata da fundação da Irmandade Cristã de Santana que assim registra: No dia 20 de Junho de 1934, reuniram Ohanes Kutudjian, Krikor Melcon Djamdjian, Avak Davis Avakian, Avark Kalaydjian, Moisé Jean Nerssisian, Waldemar Mamprezian, Hagop Chememian e Haig Adourian, os quais, falando cada um por sua vez, declararam que concretizando as idéias que sempre mantiveram sobre a fundação e organização de uma Irmandade de caráter religioso e de fins caritativos, organizavam essa associação, à qual davam a denominação de Irmandade Cristã de Santana. Com sede no distrito de Santana, na travessa Clara Camarão nº 25, nesta Capital, a qual teria por fim a celebração de cultos evangélicos e a prática da caridade moral e material, na medida se suas possibilidades. Na mesma reunião os presentes aclamaram para servir como membros da Diretoria da entidade, os seguintes nomes:- Ohanes Kutudjian para presidente, - Moisé Jean Nerssisian para Secretário e Hagop Chememian para tesoureiro.

Os demais presentes constituiriam o Conselho Consultivo.

    

Conquistaram respeito e simpatia; e outros, quer sejam os nascidos no Brasil quer sejam armênios imigrantes de vários países somaram-se aos nossos pioneiros na fé salvadora que há unicamente em Jesus Cristo, e com muito sacrifício compraram um local que era conhecido pelos armênios do bairro com o nome de “Râsmét” (Lugar dos Servos) onde compartilhavam as experiências espirituais e estudavam a Bíblia, a Sagrada Palavra de Deus e louvavam e adoravam a Deus por meio de muitas, muitas orações. O templo construído na década de 40 não tinha bancos, e segundo o costume oriental, os irmãos se assentavam em almofadas, as primeiras cadeiras foram feitas de caixas de maçãs que vinham da Argentina. Dos anos 50 a 56, a igreja contou com o trabalho dedicado da “Oriort (professora) Mary Tchorbadjian que pregava para as senhoras e fazia a Escola Dominical para as crianças. 

 

       

       

O ano de 1957 registra a última imigração oficial de descendentes de armênios para o Brasil. Os que vinham eram principalmente do Egito, e alguns desses imigrantes, vieram para Santana. Entre eles, um dos líderes da Igreja da Irmandade Armênia do Cairo, Garabed Topalian com 44 anos e sua família vieram para nossa congregação, e foi um marco na história e na vida da igreja. Também a família Aslanian veio no mesmo navio e congregavam no “Rasmét”, sua filha, Mary, posteriormente casou com o Pr. Alberto.

 

         O irmão Garabed trouxe em sua bagagem toda uma história de dedicação ao Senhor, a quem servia desde a adolescência, pois conhecia e vivia os princípios bíblicos; tinha paixão pelas almas perdidas, principalmente dos armênios, e também uma frustração: a de não ter sido um missionário na África.

 

Por estar ele biblicamente convicto dos sadios princípios da Doutrina das Igrejas da Irmandade Armênia (Yeghpairutiun) que já praticava no Egito, começa a implantá-la muito lentamente na nossa igreja, respeitando as lideranças, costumes e princípios existentes, trabalhando e orientando os nossos irmãos do passado, idosos, na sua grande maioria, que tinham uma fé genuína no Senhor, porém sem profundos conhecimentos teológicos e, muitas vezes, eram movidos mais por sentimentos e emoções do que pela Bíblia.

1957: ÚLTIMA IMIGRAÇÃO OFICIAL DE DESCENDENTES DE ARMÊNIOS

VINDA DO PASTOR GARABET TOPALIAN

         Foi para o irmão Topalian um período de grandes batalhas, falar um novo idioma, estabelecer a família, encaminhar seus assuntos profissionais e, principalmente, transformar o “Râsmét” em uma igreja.

 

         Evangelista e visitador buscava a todos, enfermos e sadios, levando-lhes sempre a mensagem de consolo e de perdão contidas no Evangelho de Cristo, e assim conquistou a admiração e a confiança de muitos irmãos de fé. Tinha também o dom de despertar talentos e vocações, e logo os envolvia na obra do Senhor.

PASTOREOU A IGREJA DE 1957 A 1993

       

       

          Em pouco tempo, torna-se conhecido e respeitado na comunidade armênia de São Paulo, onde era chamado de “Garabed Bireder” (Irmão Garabed), pastoreou a igreja de 1957 a 1993 por 36 anos.

1961- GRÊMIO JUVENIL LUZ E A MOCIDADE ARMÊNIA LUZ

       

       

         

         Em 1961, inicia, com os irmãos Diran e Pascoal, para os meninos do bairro o Grêmio Juvenil “Luz”, pioneiro na utilização de esportes e ensino de música na evangelização de juniores e adolescentes, incentivando os jovens a conquistar outros. Em 1975 foi iniciado o Grêmio para as meninas e adolescentes.

         Também fora iniciados a Mocidade Armênia “Luz”, a Escola Dominical Armênia no salão social do Centro Armênio, e a ampliação da nossa Escola Dominical no salão do “Râsmét” dando continuidade ao trabalho da “Oriort Mary.

1962- INÍCIO DO TRABALHO MISSIONÁRIO

       

       

         

         Em 1959, o missionário Alberto Darahdgian, com 27 anos, inicia um trabalho pioneiro de evangelização dos índios Marubos, no Amazonas.  Em 1960, ao tomar conhecimento desse trabalho, através de uma visita à mãe do irmão Alberto, a irmã Wartanuch irmão Garabed organiza uma visita com membros de nossa igreja ao Instituto Bíblico Peniel em Jacutinga, Minas Gerais, e nossa igreja envia para o Amazonas, em 1961, o irmão Artemio Pauluci, recém-formado nesse instituto para estagiar junto ao missionário Alberto Darahjian.

         Em 1962, o irmão Garabed, com a volta do irmão Alberto, que pastoreou a igreja por 23 anos (1963 a 1986), do Amazonas para tratamento de saúde, iniciam a UMAS, União Missionária para a América do Sul, inicialmente para apoiar o trabalho no Amazonas, que à época se desenvolvia em Ipixuna, entre seringueiros e nativos das margens do Rio Juruá, com a nossa igreja revertendo 75% da sua arrecadação para a obra missionária que se iniciava.

            O trabalho incessante dos irmãos Garabed, Alberto, Diran e Pascoal, gerou novos visitantes, as conversões foram se sucedendo e aquele grupo de poucos anciões foi sendo enfeitado com crianças e jovens, que, arrependendo-se de seus pecados, agora confessavam a Jesus como Senhor e Salvador e traziam novo alento e novas forças para a propagação do evangelho de Cristo em nosso bairro.

1963- DOAÇÃO DO TERRENO

       

 

       Confirmando seu amor pela obra iniciada em sua casa, em 1963 o irmão Moisé Jean doa para a ampliação da área de lazer 90 metros de seu terreno que era vizinho ao da igreja.

 

1964- INÍCIO DO JEIAS

       

       

         Em 1964 tem lugar em Córdoba, na Argentina, a primeira reunião dos jovens das Igrejas Evangélicas da Irmandade Armênia na América do Sul, JEIAS, que acabou revitalizando a Convenção das Igrejas, e serviram para estreitar os laços das Igrejas da Irmandade Armênia em Córdoba, Buenos Aires, Montevidéu e São Paulo, tanto por meio das Conferências anuais dos Jovens na semana da Páscoa como por meio do intercâmbio de pregadores, pastores; e, posteriormente, da Convenção das Igrejas que foi usada por Deus para o fortalecimento das nossas Igrejas.

Os irmãos Garabed e Alberto, pastoreavam a igreja, visitavam os campos missionários, inclusive levando jovens  de nossa igreja e irmãos de nossas igrejas da Argentina e Uruguai, sempre com o objetivo de despertar paixão pelas almas e envolve-los com a Missão. Contavam com a colaboração de toda a igreja e o apoio  das Diretorias  eleitas a cada 2 anos. O irmão Garabed, também visitava as igrejas e irmãos do Yeghpairutiun espalhados pelo mundo, divulgando e arrecadando fundos para a obra missionária.

1982- AMPLIAÇÃO DO MINISTÉRIO DA MISSÃO E AMPLIAÇÃO DO TEMPLO

       

       

         

         Em 1982, a visão e a obra missionária UMAS deixou de ser um trabalho apenas da Igreja de São Paulo, que hoje destina 50% de sua arrecadação para a obra missionária e mantém os nove campos missionários no Brasil, mas da Convenção Regional das quatro igrejas da Irmandade Armênia na América do Sul, que já apoiavam e colaboravam com a UMAS, e teve seu nome mudado para Missão Evangélica Unida e posteriormente agregado Dos Irmãos Armênios da América do Sul, ampliando seu campo de atuação, chegando até a Bolívia (mantida pela igreja de Montevidéu), Índia, Turquia, Sirilanka e Armênia, administrados pela comissão da UMAS em Pasadena.

Em 1982, tivemos a ampliação do templo construído na década de 40 e a ordenação para o pastorado do irmão Pascoal Nersissian, neto do iniciador de nossa igreja, que excerceu o pastorado até 1993 (11 anos).

            Com o passar dos anos, nossos primeiros irmãos foram chamados à presença do Senhor, levando consigo o idioma turco que fora substituído pelo armênio e principalmente pelo idioma brasileiro, que era o mais conhecido, e a Igreja tomando a forma doutrinária do Ierrpayrutiun, na qual, com a graça de Deus, permanecemos e frutificamos, recebe fraternalmente a todos os que querem glorificar a Deus conosco.

 

1983- CONVENÇÃO MUNDIAL DO IEGHPAVRUTIN

       

       

         

         A partir de 1983, com a formação da Convenção Mundial do Ieghpayrutiun, com a união das diversas Igrejas em diversos continentes, houve um fortalecimento das relações com essas Igrejas, ampliando nossa visão para a evangelização da Armênia, que era e continua sendo muito carente de pregação do evangelho.

 

1986- AQUIÇÃO DO TERRENO ONDE ESTÁ LOCALIZADA A IGREJA ATUALMENTE

       

       

         

         Em 1986 foi comprado o terreno da igreja atual, a pedra fundamental foi colocada no dia 25/11/9 e as obras foram iniciadas em abril de 1993. Foi um ano particularmente difícil: irmão Garabed parte para o Senhor em 30 de agosto com 81 anos. Depois tivemos a saída de irmãos da igreja e a igreja que tinha três pastores fica sem nenhum.

 Porém, com a graça de Deus, a construção do novo templo seguia acelerada e tivemos o último culto no “Rasmét” no dia 25/06/95. O imóvel foi entregue ao novo proprietário e com o dinheiro da venda terminamos o novo templo.

         A Igreja, com suas portas abertas a todos, tem 80 membros e é composta por diversos departamentos, sempre procurando dar a cada um a oportunidade de unir-se aos demais integrantes, conhecer mais profundamente Deus, sua obra e ação na vida daqueles que com sinceridade a Ele se entregam.

         Todos os Departamentos, cada qual atuando em faixas etárias específicas, com programações e atividades adequadas, buscam satisfazer às necessidades espirituais e fraternais do seu grupo, levando sempre avante o objetivo primeiro da nossa Igreja: conhecer, amar e servir a Deus, conforme os ensinamentos extraídos da Bíblia.

 

MINISTÉRIO NO LAUZANE PAULISTA

       

       No bairro de Lauzane Paulista onde começamos uma Escola Dominical, há mais de trinta anos, iniciamos uma congregação com Departamento de Senhoras, de Adolescentes e culto geral, obra que agora não mais mantemos.

         Agradecemos a Deus pela obra realizada em nossa Igreja e em nossas vidas. Louvamos a Deus pelos irmãos que 89 anos atrás, após minucioso estudo da Bíblia, extraíram a regra de fé, de conduta e forma de governo que compõe a essência do Ieghpayrutiun em todo o mundo.

51 ANOS DE MISSÃO

       

         Em 2014 comemoramos 51 anos da MEUDIA que teve seus trabalhos ampliados com a inclusão de Tucumã, administrados pelos irmãos da Igreja de Buenos Aires, construção de dezenas de igrejas na Índia e novos campos no Brasil.

         Que Deus abençoe e amplie sua obra em nossas igrejas, campos missionários em toda a Diáspora e, principalmente, na nossa Armênia.

         A Ele, somente a Ele, seja dada toda Glória e honra e louvor, por tudo o que fez esta fazendo e fará em nossas vidas, igrejas e países por onde nos tem espalhado e mantido.

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